sexta-feira, 12 de novembro de 2010

MAS QUEM FOI MESMO PAULO PONTES?

Dia 8 de novembro, o dramaturgo paraibano Paulo Pontes completaria 70 anos de nascimento, se vivo estivesse. Mais uma vez, a memória do nosso maior teatrólogo passou em brancas nuvens na Paraíba... O texto abaixo, já divulgado há 4 anos, tratava exatamente dessa apatia com uma pergunta: Quem foi Paulo Pontes?

Era o dia 28 de dezembro. O ano, 1976. Naquela data, o paraibano Vicente de Paulo de Holanda Pontes tinha sido enterrado pela manhã no Cemitério São Francisco Xavier, no Rio de Janeiro. Havia falecido um dia antes, aos 27 de dezembro e com apenas 36 anos de idade no Hospital São Samaritano, na capital carioca.

No mesmo dia de sua morte, foi homenageado pela classe teatral que tanto o estimava e respeitava o seu trabalho como intelectual, quando os teatros do Rio de Janeiro liam em cena aberta, à noite, uma emocionada carta de condolências.

Como se vê, as homenagens começaram cedo. No ano seguinte, novamente a classe teatral do Rio de Janeiro fazia uma homenagem póstuma com a leitura de vários de seus textos. O tempo vai passando e, em 1981, portanto 5 anos depois, é criado um prêmio com o seu nome destinado ao reconhecimento de profissionais do ramo de teatro, pela Associação Carioca de Empresários Teatrais.

As homenagens no Rio de Janeiro, em São Paulo e nos outros países que encenaram peças e shows de sua autoria demonstram a grandeza de Paulo Pontes no cenário cultural brasileiro. Foi um homem que cultivou amizades com grandes personalidades artísticas deste país – como Chico Buarque, Ruy Guerra, Jorge Dória, Oduvaldo Viana Filho, Flávio Rangel, Antunes Filhos e muitas outras, sem contar o detalhe de ter sido casado com a atriz Bibi Ferreira.

Com uma grande presença no eixo-Sul deste País, na verdade Paulo Pontes nunca abandonou a Paraíba. Nascido em Campina Grande, em 8 de novembro de 1940, iniciou suas atividades desde meados dos anos 50, tanto no Teatro como no Rádio. Foi ele, inclusive, um dos precursores desses programas radiofônicos de meio-dia que duram até hoje com ampla audiência, ao criar e comandar na Rádio Tabajara um programa intitulado “Rodízio”.

Como tantos grandes artistas da Paraíba, Pontes precisou do Rio de Janeiro para projetar o seu trabalho e o seu pensamento, mas passou quase toda a vida indo e voltando.

Retornando às homenagens, cabe nos perguntar, agora, o que tem sido feito pela Paraíba em memória desse importante dramaturgo. Passagens episódicas dessa ou daquela lembrança. Acrescente-se, aí, a denominação do teatro do Espaço Cultural, hoje a maior sala de espetáculos que a Paraíba possui em termos de capacidade de lotação.

Entretanto, não é raro escutar, aqui e ali, alguma pergunta do tipo:

– Quem foi Paulo Pontes?

Não é exagero. A população de João Pessoa, a grosso modo, sabe da existência de um teatro com esse nome, mas não sabe nada sobre o seu patrono. Vamos ainda mais longe: a própria classe artística, embora sabendo que se trata de um autor, a grosso modo não conhece a sua história nem tampouco a obra.

E aí vale a segunda pergunta: como é que Paulo Pontes é tão conhecido e ninguém conhece a sua obra? Muitos não conhecem sequer um título das mais de dez peças que ele escreveu!

Estamos há mais de 30 anos sem a presença física de Paulo Pontes, e muito pouco a Paraíba conhece sobre ele. A denominação do Teatro Paulo Pontes (pelo menos isso!), alardeia o seu nome quase diariamente com as notícias dos eventos ali realizados. É como os nomes de ruas que se tornam célebres apenas pela rua. Eu moro numa rua chamada Antonio Targino, mas não sei quem foi Antonio Targino.

E quem é Paulo Pontes? Quem sabe o que ele fez? Meia dúzia de intelectuais, ou uns escassos atores da velha guarda, ainda cultivam a lembrança de um ativista cultural que já está inserido no time dos melhores autores de teatro deste país – e particularmente entre aqueles autores que passaram por um dos momentos mais difíceis para a criação artística, que foi o perigo da ditadura militar, regime que ocasionou a criação de um ato institucional que só serviu para calar a voz daqueles que faziam da denúncia explícita um ato de coragem, uma expressão artística de protesto ao autoritarismo pós-64.

Grande virtude de Paulo Pontes: foi uma voz que nunca se calou! Como tantos grandes artistas de protesto, que continuaram se exprimindo através de metáforas, Paulo encontrou seus subterfúgios para continuar colocando, a serviço do povo e da cena teatral brasileira, uma dramaturgia marcada pela resistência – embora muitas vezes sob o disfarce de uma aparente comédia de costumes, como no caso de sua célebre peça “Um Edifício Chamado 200”.

É chegado o momento de se formar uma grande mesa redonda em torno da obra dramatúrgica e do pensamento desse autor, corrigindo as injustiças e o ostracismo da informação sobre o trabalho de uma personalidade tão complexa no contexto da formação cultural, social e política da segunda metade do século XX.

Essa obra precisa ser divulgada, lida e estudada. Finalmente, a memória de Paulo Pontes não pode continuar restrita à simples afixação do seu nome na placa de um teatro.

Tarcísio Pereira